sexta-feira, 17 de junho de 2011

OSÉIAS PROFETA - O MENSAGEIRO DO AMOR DE DEUS



Oséias – O mensageiro do amor de Deus

Os 1.1-14.9

Oséias, cujo livro é o primeiro na lista dos profetas menores, começou seu ministério na última década do governo de Jeroboão. Em contraste com Amós, cujo ministério parece ter sido breve, Oséias continuou por várias décadas no reino de Ezequias. Com toda probabilidade, ele foi testemunha da queda de Samaria. Oséias não está mencionado em outros livros e é conhecido por nós somente porque registra fatos que são citados no livro que leva seu nome. Ainda sendo um homem do norte, seu ministério pode ter-se estendido a ambos reinos (ver 6.4).
Demos uma olhada aos tempos de Oséias. Nasceu e se criou numa época de prosperidade e de paz. Para o final deste período, quando Israel tinha um lugar proeminente entre as nações da Palestina, Oséias começou seu ministério anunciando o juízo de Deus sobre a dinastia reinante de Jeú. Antes que se passassem muitos anos, a nação levava luto pela morte de Jeroboão, o notável governante do Reino do Norte. O ano 753-2 a.C. levou o derramamento de sangue e a morte até o palácio real. Zacarias governou seis meses, quando o assassino Salum acabou com a dinastia de Jeú. Após o governo de um mês, Salum foi assassinado por Menaém. Embora a capital estava sobressaltada, o Reino do Norte manteve o status quo econômico durante os primeiros anos do reinado de Menaém.
 A cena internacional mudou bruscamente. Tiglate-Pileser se apoderou do trono da Assíria no 745. Isto marcou o reavivamento de uma agressão pelo oeste, que pôs o Crescente Fértil sob o controle assírio durante o seguinte século. Ultimamente, sob reis sucessivos, o cinturão comercial do velho mundo que chegava até Tebas tinha sido controlado desde a capital assíria. O terror se apoderou das nações que se viram sob a ominosa ameaça dos exércitos triunfantes de Tiglate-Pileser. Havia razão para sentir medo. Sob a nova polca militar da Assíria, o nacionalismo foi submetido ao remover as populações das cidades conquistadas, levando-as a distantes partes do império. Por sua vez, os estrangeiros foram assentados em terras ocupadas, para evitar as subseqüentes rebeliões. Uma vez conquistada por Assíria, era mais difícil, certamente, para qualquer nação o poder liberar-se do jugo imposto.
Tempos turbulentos perturbaram os reinos da Palestina durante a segunda metade do século VIII a.C. Inicialmente Uzias, o rei de Judá, capitaneou a coalizão palestina contra o avanço assírio, porém sem êxito duradouro [1]. Menaém reteve seu trono somente em troca de pagar excessivos tributos, extraindo-os a viva força de seu povo para entregá-los ao monarca assírio [2]. Embora isto resolveu o problema temporalmente, Menaém levantou o ressentimento dos cidadãos ricos de Israel. Após sua morte, seu filho Pecaías somente governou por dois anos, antes de ser assassinado numa rebelião contra a liderança que favorecia a política pró-assíria.
Peca, o assassino, levou vantagem da concentração dos assírios na campanha de Urartu.
Aliando-se com os sírios de Damasco, se preparou para o dia do retorno dos assírios. Esta tentativa abortada de libertar Israel da ameaça assíria, somente piorou as coisas. Por volta do 732 a.C., Rezim, o rei sírio, foi morto na ocupação de Damasco pelos assírios. Israel tinha pouca chance, já que Acaz, o rei de Judá, tinha feito aliança com Tiglate-Pileser.
Peca foi destronado numa morte sangrenta, para deixar passagem a Oséias, quem imediatamente assegurou ao rei assírio sua lealdade e o tributo de Israel.
Oséias começou seu reinado como vassalo da Assíria. Quando Salmaneser substituiu a Tiglate-Pileser no trono da Assíria, no 727 a.C., os israelitas tentaram outra rebelião. Em poucos anos, os exércitos de Salmaneser V rodearam Samaria. Após um assédio de três anos, a capital israelita capitulou no 722 a.C. Passadas três décadas depois da morte de Jeroboão, o Reino do Norte foi reduzido de um lugar de governo entre as nações da Palestina a uma província assíria.
Estas turbulências e vicissitudes do reino naquelas décadas quase apagaram a voz do profeta Oséias. Os tempos eram tão bons, nos primeiros anos de seu ministério, que os israelitas não queriam ser perturbados por advertências proféticas. A dinastia de Jeú tinha retido, afortunadamente, o trono durante quase um século. Antes de que se passasse muito tempo, contudo, a predição de Amós do exílio de Israel cobrou uma portentosa significação quando a política militar dos assírios desarraigou as populações nas terras ocupadas e as enviou a lugares distantes do império, levando à prática o exílio. As repetidas mortes de palácio, a invasão assíria, os pesados tributos e contribuições, as vacilantes alianças com estrangeiros e, finalmente, a queda da Samaria, figuraram nos turbulentos tempos do ministério de Oséias.
Passando tudo ao longo das tribulações e problemas dos cambiantes tempos, Oséias fielmente serviu a sua geração como porta-voz de Deus. não se dão detalhes a respeito de seu chamamento ao ministério profético, além do fato de que o Senhor falou com ele. Oséias foi compelido a descrever o fato de que Deus ainda amava a um Israel que tinha voltado a seus antigos pecados. Pacientemente, rogou a seu povo que se arrependesse, enquanto via o reino deslizar-se desde a posição arrogante que tinha com Jeroboão II, ao nível de uma província assíria ocupada.
Durante seu longo ministério, Oséias partilhou o empenho de seu povo num reino titubeante. Com compaixão e amor por seus concidadãos, manifestou uma sensitiva resposta às necessidades de Israel em sua pecadora condição. Além de sua experiência pessoal, expressou num tom de tristeza o amor de Deus por um povo que tinha falhado em responder a sua bondade.
Não se dão datas específicas no livro de Oséias. Já que Jeroboão e Uzias são mencionados no versículo inicial, é geralmente conveniado que Oséias começou seu ministério por volta do 760 a.C., nos últimos anos do reinado de Jeroboão [3]. Certamente, suas predição concernente à dinastia de Jeú no primeiro capítulo e possivelmente as sucessivas mensagens nos primeiros três capítulos do livro, foram publicamente dados antes da morte de Jeroboão. É razoável associar as mensagens dos capítulos 4-14 com os acontecimentos que espalharam as grandes sombras da dominação assíria sobre a terra da Palestina. Para uma analise completa de sua mensagem, como está registrada no livro que leva seu nome, pode considerar-se a seguinte perspectiva:

I. O matrimônio de Oséias e sua aplicação a Israel                    Os 1.1-3.5
II. As acusações de Deus contra Efraim                                  Os 4.1-6.3
III. A decisão de Deus de castigar Efraim                                Os 6.4-10.15
IV. A resolução de Deus nos juízos e misericórdia                     Os 11.1-14.9

Única entre os profetas foi a experiência matrimonial de Oséias. Sob divina compulsão, Oséias casou com Gomer. No curso do tempo, lhe nasceram três filhos, Jizreel, Lo-Ruama e Lo-Ami, esta relação de família se converteu na base para várias mensagens que Oséias entregou  a seu povo na primeira década de seu ministério.
A brevidade de Oséias no informe de seu matrimônio e a vida de família, deixa um número pendente de problemas [4]. A despeito disso, o leitor não pode falhar em ver a progressiva revelação da mensagem de Deus através de Oséias. Com o nascimento de cada filho, a advertência do juízo pendente era apresentada com maior força e exata clareza.
O nome "Jizreel" remove numerosas lembranças de triste memória nas mentes dos israelitas. Como cidade real de Israel, estava associada com o assassinato de Nabote por Jezabel.
Correntemente, isso lembrava os israelitas que a poderosa dinastia reinante de Jeú marcou seu caminho para o trono com um excessivo derramamento de sangue em Jizreel (2 Reis 9-10).
Desta forma, Oséias advertiu a sua geração que o Reino do Norte estava perto de seu fim.
Seu poder seria destruído e ficaria quebrado no vale de Jizreel.
Outra advertência chegou a Israel com o nascimento da filha de Oséias, Lo-Ruama. O significado "não compadecida" levou aos israelitas a mensagem de que Deus retiraria sua misericórdia. Já não os perdoaria totalmente. Subseqüentemente, o nascimento do terceiro filho trouxe o anúncio de que Deus estava fazendo mais severas suas relações com Israel. Na aliança existia um mútuo laço de união entre Deus e seu povo. Então Oséias deu a notícia a Israel de que  aquele laço seria dissolvido. Já não era Israel o povo de Deus; nem Deus, o Deus de Israel. A relação da aliança tinha alcançado seu ponto de ruptura.
Apesar de tudo, Oséias, olhando ao longe no futuro, injetou um raio de esperança nos projetos de total abandono de Deus [5]. A sentença contra Israel ia realmente ser executada; porém, chegaria um dia quando tanto Israel como Judá seriam reunidas de novo sob um único governante em sua própria terra. Esta multidão incontável seria identificada como os "filhos do Deus vivente".
Oséias, então, voltou aos problemas contemporâneos. A esperança da última restauração necessitava pouca ênfase quando sua geração estava a ponto de perder o favor de Deus. a fórmula legal do divórcio (2.2) indica que o profeta dissolveu seu matrimônio com a adúltera Gomer. De igual forma, Israel, por sua terrível atuação, é culpável de adultério. O grão, o vinho, o azeite, a prata e o ouro que Deus tinha generosamente subministrado a seu povo, tinham sido utilizados pelos israelitas em oferendas a Baal. Israel, como sua conduta tinha demonstrado, não "sabia" nem percebia que Deus tinha-lhe outorgado todas aquelas coisas boas ao povo de sua aliança [6]. Então, Deus estava a ponto de visitá-los com seu juízo.
Todas as festividades religiosas cessariam. Israel seria castigada por sua apostasia ao ser desarraigada e exilada —abandonada por Deus.
E mais uma vez, o futuro ficava desvendado. A seu devido tempo, Deus concederia a graça de restaurar a Israel (2.14-23). O dia se aproximava em que a aliança seria renovada de tal forma que mais uma vez gozaria das bênçãos do Altíssimo como povo de Deus. esta promessa foi confirmada na própria existência de Oséias (3.1-5). O profeta foi convidado a buscar sua esposa e reinstalá-la em sua família. Mas, onde estava ela? O que tinha acontecido com ela?
Aparentemente, ela tinha ido embora e tinha chegado a um limite tal de imoralidade que ninguém tinha necessidade de sua companhia. Oséias a achou na praça do mercado, sendo oferecida à venda ao melhor concorrente [7]. Indo muito além de suas obrigações morais e religiosas, pagou seu preço e pôs nela seu amor, renovando os votos de seu matrimônio. Esta ação simbolizava a atitude de Deus para com a adúltera Israel [8]. A simples promessa de Deus é que Israel, mais uma vez, será restaurada nos últimos dias sob o governo de um rei, Davi.
Que cargos tinha Deus contra Israel? Linguagem blasfema, mentira, assassinato, roubo, adultério e crime —todos esses foram os sintomas do fracasso de Israel em reconhecer a seu Deus. o povo tinha ignorado a lei de Deus [9] e, em conseqüência, Deus o havia rejeitado. Em sua idolatria, Efraim era pior que uma prostituta [10]. Os sacerdotes e os profetas igualmente tinham falhado até o extremo de que incluso Judá foi advertida de não se contaminarem com Efraim. O sacerdote, o rei e o povo foram alertados no fato de que o juízo se aproximava (5.1). com trombetas ressoando o alarme por toda a terra, Deus estava avisando Israel que estava a ponto de abandoná-la. Não tinha buscado a Deus, senão que tinha olhado para a Assíria em busca de ajuda. Deus ia abandoná-la até o tempo em que Israel genuinamente O buscasse (6.1-3).
Que faria Deus com Efraim? Esta pergunta sobressai na objetiva discussão representada por 6.4-10.15. Esta seção reflete a mensagem de Oséias durante as décadas em que Efraim estava em trance de desintegração sob a esmagadora marcha e o avanço da máquina assíria de guerra. Gradativamente, as nuvens do exílio foram expandindo uma sombra crescente sobre Efraim e, por último, foram extintos os últimos raios das esperanças nacionais de Israel.
Em relação com a aliança, o amor de Israel por Deus tinha vacilado constantemente.
Repetidamente, Deus havia tratado de fazer voltar seu povo de seus caminhos errados, ao enviar os profetas para chamar sua atenção. Em outras ocasiões, Ele a tinha visitado com calamidades e juízos. Ainda persistia em substituir as ofertas pelo verdadeiro amor e a lealdade. Quando Deus tiver revivido a Israel após seu castigo, que acharia? Ações más, engano, roubo, bebedices —tudo isso era nauseabundo para Deus, como um bolo a meio cozer. Ninguém em Israel buscava realmente a Deus. Efraim era demasiado orgulhosa. Agindo como uma pomba facilmente enganada, os oficiais buscavam a segura ajuda do Egito ou da Assíria pela diplomacia, esperando assim fugir do juízo de Deus. em vez de confiar em Deus, continuavam manifestando  sua dependência  de Baal. que podia fazer Deus, senão executar a sentença contra o povo infiel e ingrato!
Outra acusação contra Israel era que os reis tinham sido entronizados sem a aprovação de Deus. Fazendo ídolos, o povo tinha-se afastado e desprezado o Decálogo, que claramente limitava seu pacto e lealdade a Deus, quem os libertou da escravidão do Egito [11]. Além disso tudo, a multiplicação de altares e sacrifícios não resultava agradável a Deus, entretanto que não estava acompanhada das devidas atitudes. A hipocrisia religiosa de Israel era patente para Deus nos dias de Oséias. A causa de sua evidente maldade, a morte e a destruição aguardavam a todo Israel. O rei seria completamente destronado na terminação do reino (8.1-10.15).
Como poderiam o eterno amor de Deus e sua justiça para com o Israel rebelde serem resolvidos? Poderia Deus abandonar por completo e esquecer-se de seu povo? A solução a este problema se dá em 11.1-14.9. Israel era o filho de Deus [12]. No Egito, Deus tinha confirmado sua aliança com os israelitas e os havia redimido de sua escravidão. Como um pai cria com carinho a seu filho vacilante, o provê em todas suas necessidades e lhe outorga seu amor sem medida, assim Deus tinha-se cuidado continuamente de Israel. Agora, o povo tinha pecado e estava na necessidade de receber a correspondente disciplina o castigo deveria chegar, mas não voltariam ao Egito. Assíria era designada como a terra do exílio [13]. Ainda lutando com o problema do amor compassivo para com um filho descaminhado e contumaz, a mensagem profética faz uma transição desde uma ameaça a uma promessa pela questão de "Como poderei abandonar-te, oh, Efraim?". O problema é resolvido ao enviar a Israel ao exílio com a seguridade de que retornará. Tanto Judá como Efraim são culpáveis de confiar no Egito e na Assíria, procurando ajuda. Israel tem provocado a ira de Deus e se convertido em repreensão para Ele. Por um tempo, irá à nação como um leão devorador para executar a sentença decretada sobre ela. Isto não pode ser alterado, porém no futuro, Deus será sua ajuda. Esta promessa proporciona a Israel consolo, e será como uma baliza durante os escuros dias do exílio.
Para seu povo, Oséias dá uma simples fórmula para que volte a Deus: abandonar os ídolos, transferir sua fé e confiança da Assíria a Deus, e confessar suas iniqüidades. Somente em Deus acharão a misericórdia os que estão abandonados pelo Pai (14.1-4).
A última esperança é a restauração de Israel. O dia chegará em que os ídolos serão abandonados e a devoção para Deus terá uma plenitude piedosa. Restaurada em sua própria terra, Israel gozará mais uma vez da prosperidade material e das bênçãos divinas.


[1] Ver G. E. Wright, Biblical Archaeology, p. 161.
[2] Pritchard, op. cit., p. 283.
[3] Certamente, um período de três a dez anos deve ser concedido para o matrimônio de Oséias e o nascimento de seus três filhos. Não se indica que quantidade de tempo desse período foi contemporâneo de Jeroboão. Com a data terminal de Jeroboão como o 753 a.C., pareceria razoável datar o começo do ministério de Oséias aproximadamente no 760 a.C.
[4] As duas básicas interpretações desta passagem são a literal e a alegórica. Para um breve sumário, ver Bentzen op. cit., pp. 131-133; para uma extensa interpretação, ver os comentários gerais.
[5] Para uma proveitosa discussão, ver C. F. Keil.
[6] A palavra "conhecer" ou "conhecimento" é usada freqüentemente por Oséias e não se refere meramente a uma compreensão intelectual. O problema é que o povo não ajusta suas vidas ao requerimento de Deus.
[7] Para uma discussão desta mulher no capítulo 3 e sua identificação com Gomer, ver Norman Snaith, Mercy and Sacrifice (Londres: SMC Press, 1953), pp. 27-38.
[8] Possivelmente ela tinha-se convertido numa escrava concubina de outro homem, ou talvez retornou com seu pai, a quem Oséias pagou um segundo tributo nupcial.
[9] Ver Êx 19.1-6, onde a obediência é a chave para uma reta relação de Israel com Deus como povo santo.
[10] Oséias utiliza com freqüência a palavra "Efraim" para designar o Reino do Norte, em contraste com Judá. A aliança foi feita em tempos de Moisés com a totalidade da nação. A divisão política no 931, ainda existente em tempos de Oséias, não existirá na restauração. Ver também Ez 37.
[11] Ver as advertências dadas por Moisés em Dt 28.15-68.
[12] Aqui Deus é representado como um pai que tem compaixão e que ama seu filho, enquanto previamente a aliança entre Deus e Israel está figuradamente expressada por um laço matrimonial.
569 Compárese la versión Cipriano de Valera (1960) y KSV en Os. 11:5. La primera sigue el texto hebreo,
diciendo «No volverá a tierra de Egipto». La última, omite el «no» siguiendo el texto griego.

[13] Compare-se a versão Cipriano de Valera (1960) e a KSV em os 11.5. A primeira segue o texto hebraico, dizendo "Não voltará à terra do Egito". A última omite o "não", seguindo o texto grego.
(Nas versões portuguesas, figura: "Acaso não voltarão ao Egito...?" na NVI [interrogativo], e "Não voltará para a terra do Egito" [negativo], nas versões ACF e PJFA.  -  N. da T.)



Fonte: Samuel J. Schultz - A História de Israel no AT



Pesquisa: Pr.Charles Maciel Vieira

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