terça-feira, 28 de junho de 2011

LIVRO DE PROVERBIOS - UMA ANTOLOGIA DE ISRAEL





Os Provérbios – Uma antologia de Israel

O livro dos Provérbios é uma soberba antologia de expressões sábias [1]. Provocativo em estimular o pensamento, um provérbio ressalta uma simples verdade, evidente por si mesma. No uso popular, teve com freqüência uma desfavorável conotação [2]. A literatura dos Provérbios, contudo, representa a sabedoria do sentido comum expressada de uma forma breve e simples. No transcorrer do tempo, um provérbio —mashal em hebraico— não somente se converteu em um instrumento de instrução, senão que ganhou um uso extensivo como tipo de discurso didático.
A coleção de provérbios preservada no livro de tal nome, contém repetidas rubricas de origem em suas diversas partes. Indicativos de suas numerosas divisões neste livro são estes encabeçamentos:

1) Os provérbios de Salomão, Provérbios 1.1
2) Os provérbios de Salomão, 10.1
3) As palavras do sábio, 22.17
4) Provérbios de Salomão copiados pelos homens de Ezequias, 25.1
5) As palavras de Agur, 30.1
6) As palavras do rei Lemuel, 31.1

Uma breve consideração destas anotações deixa aparente que o livro dos Provérbios é, em sua forma presente, um resumo que abrange séculos de tempo transcorrido. Inclusive, ainda que a maior parte desta coleção está associada com Salomão, resulta obvio que se adicionaram certas partes durante ou posteriormente ao tempo de Ezequias (700 a.C.).
A associação da sabedoria com Salomão está bem testemunhada em Reis e Crônicas.
Os relatos históricos deste grande rei o retratam como o compêndio da sabedoria na glória de Israel em seu período mais próspero. Em humilde dependência de Deus, começou seu reinado com uma oração em solicitude da sabedoria. Em seu amor por Deus, sua preocupação por emitir sempre o juízo justo, e a sábia administração de seus problemas domésticos e estrangeiros, Salomão representa a essência da sabedoria prática (1 Rs 3.3-28; 4.29-30; 5.12).
Sobressaindo por cima de todos os homens sábios, ganhou tal fama internacional que governantes estrangeiros —entre a mais notável, a rainha de Sabá— foram para expressar sua admiração e buscar sua sabedoria (2 Cr 9.1-24).
Versátil em seus trabalhos literários, Salomão fez discursos sobre matérias de comum interesse, tais como plantas e a vida animal. Com o crédito de ter composto 3000 provérbios e cinco cantos, as partes do livro dos Provérbios que lhe são atribuídas não são senão uma amostra de suas palavras de sabedoria [3]. A relação entre o livro dos Provérbios e a sabedoria de Amen-en-opete tem restado como problema para ulterior estudo. Já que a fama de Salomão em sabedoria prevaleceu por todo o Crescente Fértil, parece razoável considerar seriamente que a sabedoria egípcia estivesse influenciada pelos israelitas [4]. A dívida de Amen-en-opete aos Provérbios parece mais verossímil, se Griffith está no certo ao datar em aproximadamente o 600 a.C., quando os sábios já tinham sido ativos em Israel por vários anos.
Pode muito bem ser que os Provérbios 1-24 sejam, seguramente, dos tempos salomônicos, e proporcionem uma base para a adição de outros provérbios pelos homens de Ezequias (25-29) [5]. Aqueles homens, provavelmente, editaram a coleção inteira nos capítulos precedentes. A identidade de Agur e Lemuel e a data para a adição dos dois capítulos finais, permanecem desconhecidas ainda em nossos dias.
Uma variedade de formas poéticas e ditados cheios de sabedoria são aparentes nos Provérbios. Os primeiros nove e os dois últimos capítulos são extensos discursos, enquanto que as seções restantes contêm versos curtos, constituindo cada uma, uma unidade.
O paralelismo, tão característico na poesia hebraica, se usa efetivamente nestes provérbios [6]. Em paralelismo "sinônimo", o pensamento é repetido na segunda línea do dístico [7], exemplificado em 20.13:
"Não ames o sono, para que não empobreças;
abre os teus olhos, e te fartarás de pão".
Freqüentemente, a segunda línea será "antitética" [8], expressando um contraste. Note-se o exemplo de 15.1:
"A resposta branda desvia o furor,
mas a palavra dura suscita a ira"
Num paralelismo "sintético" ou "ascendente", a idéia expressada na primeira línea está completada na segunda. Esta progressão do pensamento está competentemente ilustrada em 10.22:
"A bênção do SENHOR é que enriquece;
e não traz consigo dores"
Enquanto muitas partes dos Provérbios estão completas em si mesmas, o livro como unidade merece uma séria consideração para o leitor principiante. Isto conduz por si à perspectiva seguinte:

I. Introdução                                                                                 Pv 1.1-7
II. Contraste e comparação da sabedoria e da insensatez Pv 1.8-9.18
     a. O anelo da sabedoria                                                Pv 1.8-2.22
        Ela guarda de más companhias                                    Pv 1.8-19
        É desprezada pelos ignorantes                                     Pv 1.20-23
        Libera do mal a homens e mulheres                             Pv 2.1-22
     b. A bênção prática da sabedoria                                    2.1-35
        Deus faz prosperar o sábio                                         Pv 3.1-18
        Deus protege o sábio                                                 Pv 3.19-26
        Deus abençoa o sábio                                                Pv 3.27-35
     c. Os benefícios da sabedoria na experiência                     Pv 4.1-27
     d. As advertências contra os caminhos da insensatez          Pv 5.1-7.27
        Evitar a mulher estranha                                            Pv 5.1-23
        Evitar tratos e negócios desatinados                             Pv 6.1-5
        Os perigos da preguiça e do engano                             Pv 6.6-19
        O desatino do adultério                                              Pv 6.20-7.27
     e. A personificação da sabedoria                                     Pv 8.1-9.18
        A sabedoria tem grandes riquezas                                Pv 8.1.31
        Bênçãos asseguradas ao possuidor da Sabedoria            Pv 8.33-36
        O convite ao banquete da sabedoria                             Pv 9.1-12
        O convite da insensatez                                              Pv 9.13-18
III. Máximas éticas                                                                      Pv 10.1-22.16
     a. Contraste do reto e o incorreto na prática                     Pv 10.1-15.33
     b. Admoestação para temer e obedecer a Deus                 Pv 16.1-22.16
IV. As palavras do sábio                                                              Pv 22.17-24.34
     a. Os caminhos da sabedoria e da insensatez                    Pv 22.17-24.22
     b. Advertências práticas                                                Pv 24.23-34
V. Coleção dos homens de Ezequias                                         Pv 25.1-29.27
     a. Reis e súbditos temerão a Deus                                  Pv 25.1-28
     b. Advertências e lições morais                                       Pv 26.1-29.27
VI. As palavras de Agur                                                               Pv 30.1-33
VII. As palavras de Lemuel                                                         Pv 31.1-31

O título deste livro em sua maior parte se aplica em forma de curtos aforismos em 10.1-22.16, que estão caracterizados como provérbios. A introdução em 1.1-7, contudo, inclui a inteira coleção em sua declaração de propósitos. Embora projetado como guia para a juventude, tais provérbios oferecem a sabedoria para todos. sua nota predominante é "o temor de Deus", e a sabedoria tem como clave uma reta relação com Deus. o conhecimento pessoal de Deus é o fundamento para um reto viver. Uma reverência para Deus no diário viver é a verdadeira aplicação da sabedoria.
Um conceito de discussão entre a sabedoria e a insensatez é resumido em 1.8-9.18. está disposta na relação entre mestre e aluno ou pai e filho, com o que escuta ao que freqüentemente se dirige como "meu filho". Da escola da experiência procedem palavras de instrução à juventude,que se adentra nos misteriosos e desconhecidos caminhos da vida.
A sabedoria está personificada. E fala com uma lógica irrefutável. Discute com a juventude para considerar todas as vantagens que oferece a sabedoria, e adverte a gente jovem contra as sendas da estultícia, ressaltando realisticamente os perigos dos crimes sexuais, más companhias e outras más tentações. Numa chamada final, a sabedoria se estende e convida à mesa de um banquete. A ignorância conduz à ruína e à morte; porém os que se decidem pela sabedoria têm assegurado o favor de Deus.
Os provérbios de Salomão preservados em 10.1-22.16 consistem em 375 versos, cada um dos quais normalmente constitui um dístico. A imensa maioria são antitéticos, enquanto que alguns são comparações ou declarações complementares. Vários aspectos da pauta da conduta do sábio e do ignorante situam-se em primeiro plano. A riqueza, a integridade, a observância da lei, o discurso, a honestidade, a arrogância, o castigo, as recompensas, a política, o suborno, a sociedade, a família e a vida nela, a reputação, o caráter; quase todas as frases da vida estão situadas em sua adequada perspectiva.
As palavras da sabedoria em 22.17-24.34 contêm aforismos instrutivos, a maior partes dos quais são maiores que os dísticos da seção precedente. Os perigos da opressão, a etiqueta na mesa real, a insensatez de ensinar aos tolos, o temor de Deus, as mulheres, as bebedeiras e os benefícios da sabedoria recebem consideração neste discurso entre mestre e discípulo.
Os provérbios coletados pelos homens de Ezequias estão agrupados juntos em 25-29. provavelmente a derrota de Senaqueribe e o reavivamento religioso nos dias de Ezequias estimularam o interesse neste propósito literário [9]. Não resulta ilógico supor que Isaias e Miquéias estivessem entre esse grupo de homens. Estes provérbios proporcionam conselho para os reis e súbditos, com especial atenção à pauta de conduta dos estultos. Nas oportunidades que oferece a vida, o estulto exibe sua estultícia, enquanto que o homem sábio demonstra as formas da sabedoria.
Os dois últimos capítulos são unidades independentes. Agur, um autor desconhecido, fala das limitações do homem e da necessidade de condução por parte de Deus, por Sua Palavra.
Como coisa característica das antigas formas de literatura, propõe questões retóricas, falando nelas de diversos problemas da vida, concluindo com conselhos práticos.
O capítulo final abre com as instruções de Lemuel, o correspondente aos reis. Num acróstico alfabético, louva a inteligente e industriosa ama de casa —a mãe consagrada a seu lar e a seus filhos é digna do maior louvor.



[1] Um total de 915 provérbios. Ver Julius H. Greenstone, Proverbs (Filadelfia: Jewish Publication Society of America, 1950), p. XII.
[2] Ver Nm 21.27; 1 Sm 10.12; Is 14.4; Jr 24.9; Jó 17.6, etc.
[3] Os 374 provérbios em Pv 10.1-22.16 podem representar somente uma coletânea feita nos dias de Salomão.
[4] Ver R. O. Kevin, The Wisdoin of Amenemopt and its Possible Dependence upon Hebrew Book of Proverbs (Filadelfia, 1931). Amen-en-opete está datado durante o período 1000-600 a.C. Para ulterior estudo, ver Pritchard Ancient Near Eastern Texts, pp. 421-424 e D. Winton Thomas, Documenls from Old Testament Times, pp. 172-186.
[5] Ver E. J. Young, op. cit., pp. 301-302.
[6] Ibid., pp. 281-286.
[7] Dístico: trata-se de uma composição poética ou estrofe de dois versos que expressam um conceito cabal. Resulta sinônimo de "pareado", ainda que este último termo seja mais utilizado em poesia moderna, enquanto que se utiliza o termo "dístico" em versificação antiga. (N. da T. Fonte: Enciclopédia Encarta de Microsoft).
[8] Antitético,a: que denota antítese. Antítese: figura poética que consiste em contrapor duas palavras ou frases de significação contrária, por exemplo: "os livros estão sem doutor e o doutor sem livros". (N. da T. Fonte: Enciclopédia Encarta de Microsoft).
[9] Greenstone, op. cít., p. 262.


Fonte: Samuel J. Schultz - A História de Israel no AT


Pesquisa: Pr.Charles Maciel Vieira


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