sexta-feira, 17 de junho de 2011

AMÓS PROFETA - PASTOR E PROFETA



Amós – Pastor e profeta

Am 1.1-9.15

Nos últimos anos do reinado de Jeroboão, Amós proclamou a palavra de Deus no Reino do Norte. Amós chegou a Samaria procedente do pequeno povoado de Tecoa, localizado a uma 8 km ao sul de Belém. Para ganhar-se a vida, pastoreava ovelhas e cultivava sicômoros [1]. Enquanto estava entre os pastores de Tecoa, Amós recebeu o chamamento de Deus para ser um profeta. Esta chamada foi tão clara como o cristal, de forma tal que quando o sumo sacerdote lhe chamou a atenção em Betel, Amós recusou ser silenciado (7.10-17).
A mensagem de Amós refletiu o luxo e a comodidade de Israel durante o reinado de Jeroboão [2]. O comércio com a Fenícia, a passagem do tráfego das caravanas através de Israel e a Arábia, e a expansão para o norte a expensas da Síria, aumentaram extraordinariamente as arcas de Jeroboão. O rápido crescimento do nível de vida entre os ricos ampliou a distância entre classes. Prevaleceram os males sociais. Com uma sagaz visão das coisas, Amós observou a corrupção moral, o luxo egoísta e a opressão dos pobres, enquanto a riqueza rapidamente acumulada produzia mais ricos. Numa linguagem simples, porém cheia de força, denunciou, corajosamente, os males que se tinham introduzido na vida social, política e econômica de todo Israel. Nos rituais religiosos, não havia substituto para a justiça, sem a qual a nação de Israel não poderia escapar ao juízo de um Deus justo.
Por quanto tempo profetizou Amós? Já que chegou de Judá ao domínio de Jeroboão para denunciar a aristocracia da riqueza e do luxo, é razoável assumir que seu ministério somente foi tolerado por um breve período de tempo. o que aconteceu a Amós após que Amasias informasse dele a Jeroboão, é algo que não está registrado. Pode ter sido encarcerado, expulsado ou incluso martirizado [3]. Com lucidez literária e um magnífico estilo, Amós predica a mensagem de Deus para sua geração [4]. Numa clássica simplicidade, descreve seu encontro com a pecadora nação contemporânea. Para uma breve analise do livro de Amós, note-se o seguinte:

I. Introdução                                                                     Am 1.1-2
II. Denúncia das nações                                                       Am 1.3-2.16
III. As acusações ampliadas de Deus contra Israel                    Am 3.1-6.14
IV. O plano de Deus para Israel                                             Am 7.1-9.15

Deve ter-se em conta como Amós começou sua missão predicadora. Anunciando valentemente o juízo para as nações circundantes, atraiu a atenção dos israelitas. A ação do profeta, verossimilmente provocou uma alegria maliciosa em mais que uns poucos corações endurecidos.
Damasco foi a primeira a ser denunciada. Seguramente alguns dos israelitas mais velhos puderam lembrar de como Hazael havia trazido a destruição sobre eles, pela invasão, ocupação e o cativeiro durante o reinado de Jeú. Outros, no auditório de Amós, lembraram com desagrado os filisteus, que traficaram com cativos em seu comércio com Edom. Tiro tinha sido culpável do mesmo lucrativo negócio. Os edomitas, que eram notórios por sua animosidade e ódio para com Israel, já desde os dias de Jacó e Esaú, não puderam escapar ao juízo e castigo de Deus. as atrocidades dos amonitas e os traiçoeiros moabitas, com suas más ações, foram igualmente indicados pelo juízo divino.
Enquanto os israelitas escutaram aquelas terríveis denúncias feitas por Amós, se alegraram, indubitavelmente, pelo fato de que o juízo divino estiver dirigido a seus pecadores vizinhos.
Aqueles pagãos se mereciam o castigo. Por então, Amós já tinha avisado a Israel ao julgar seis nações circundantes. O sétimo na lista era o próprio reino de Judá. Talvez o povo de Jerusalém tinha-se refugiado no orgulho de ser e considerar-se a atalaia da lei e do templo. Amós, sem temor, os condenou por sua desobediência e desprezo da lei. Com toda certeza, isto resultava mais agradável aos israelitas nacionalistas, que se ressentiam do orgulho religioso de Judá.
Caso Amós tiver concluído sua mensagem por ali, poderia ter sido mais popular; porém não foi assim o caso. Os seguintes na ordem do dia eram os próprios israelitas aos que estava falando. Os males sociais, a imoralidade, a profanação —tudo aquilo existia em Israel. Deus não podia deixar passar tais pecados no povo de sua aliança, ao qual tinha remido do Egito. Se outras nações mereciam o castigo, muito mais o merecia a própria Israel. Não, não escapariam ao escrutínio do Senhor.
Certamente, era íntima a relação entre Deus e Israel (3.1-8). De todas as nações da terra, Deus tinha escolhido a Israel para ser o povo de sua aliança. Porém, havia pecado. somente restava uma alternativa: Deus deveria castigá-lo. O falho em apreciar e medir os maiores privilégios e as mais abundantes bênçãos, traria a visita de Deus em seu juízo.
Será que o juízo chega por casualidade? Por uma série de questões retóricas, onde a resposta é evidentemente "Não", Amós expressou a verdade evidente de que o mal ou o castigo não chegam a uma cidade sem o conhecimento de Deus. Deus o revela aos profetas. E quando Deus fala a um profeta, que pode este fazer, senão profetizar? Em conseqüência, Amós não tinha alternativa.
Deus tinha-lhe falado. Ele estava sob a divina compulsão para pronunciar a palavra de Deus.
Apelando aos vizinhos pagãos como testemunhas, Amós perfila seus cargos contra Israel (3.9-6.14). Em Samaria, os ricos bebiam e gozavam a expensas dos pobres. Persistindo naqueles males, multiplicaram as transgressões com sacrifícios rituais. Ao mesmo tempo, odiavam a reprovação, resistiam à verdade, aceitavam subornos, descuidavam o necessitado e afligiam o justo. Em essência, tinham tornado a justiça em veneno. A avaliação de Deus das condições de Israel deixou somente uma alternativa. O exílio em massa tinha sido decretado para os israelitas.
Incluída nestes cargos estava a explícita aclaração da condenação que se aproximava. Um adversário rodearia o país. Nem a religião nem a política salvariam Israel quando os altares de Betel e os palácios de marfim fossem derrubados sob as pancadas dos invasores. Como peixes colhidos  com anzóis, os cidadãos de Israel seriam arrastados ao exílio. Deus estava levando a uma nação sobre eles em juízo, para oprimir a terra desde a fronteira do norte em Hamate até um rio do Egito.
A misericórdia tinha precedido o juízo [5]. Deus tinha enviado a seca, as pragas e a peste para despertar Israel ao arrependimento; porém o povo não tinha respondido.
Continuando em sua vida ímpia, tinham antecipado o dia em que o Senhor lhes traria as bênçãos e a vitória. Que trágica ilusão! Amós ressaltou que para eles este seria um dia de escuridão antes que de luz. Como um homem que corre perseguido por um leão, somente para deparar-se com um urso, assim Israel encarava a inevitável calamidade no dia do Senhor. Deus não podia tolerar seus rituais religiosos, festas e sacrifícios ao tempo que eram culpados de pecados contra seus concidadãos. Sua única esperança para viver era buscar a Deus, odiar o mal, amar o bem, e demonstrar a justiça em sua total pauta de vida. Já que não tinham respondido às repetidas advertências e avisos, o juízo de Deus era irrevogável. Deus não podia ser subornado mediante ofertas e sacrifícios para afastar a aplicação de Sua justiça. A completa ruína, e não o triunfo, os aguardava no dia do Senhor.
O plano de Deus para Israel estava claramente perfilado, eles tinham ignorado Sua misericórdia.
O juízo estava agora pendente. Em cinco visões, Amós previu os futuros acontecimentos, aonde lhe fora dado uma mensagem de advertência (7-9). Aquelas visões aclaravam vividamente a condenação em marcha. Em ordenada progressão, as quatro primeiras visões —os gafanhotos, o fogo, o prumo e o cesto de frutos— conduziam à quarta, que significava a real destruição.
Quando Amós viu a terrível formação de gafanhotos, sentiu-se profundamente comovido por seu povo. De ser libertados da terra, seriam roubados de seu sustento, incluso ainda se o rei tinha sua participação na erva serôdia. Imediatamente, Amós gritou: "Senhor DEUS, perdoa, rogo-te" (7.2), e a mão de Deus do juízo foi detida.
Logo a seguir, o profeta percebeu um fogo destruidor que Deus estava a ponto de soltar em juízo contra Israel. Amós não podia suportar o pensamento de que o povo de Deus fosse consumido pelo fogo. Mais uma vez intercedeu, e em resposta, Deus evitou o juízo.
Na terceira visão, o Senhor aparecia com um prumo em sua mão, para inspecionar um muro. Isto significava claramente a inspeção de Deus para com Israel. Ninguém sabia melhor que Amós que os israelitas não poderiam passar este exame; porém o profeta foi advertido com antecipação que Deus não passaria novamente a mão com misericórdia. Por duas vezes Deus tinha estendido sua complacência misericordiosa, mas agora os santuários seriam derrubados. A família real se encarava com a espada.
Aparentemente, esta mensagem era demasiado forte para os que o ouviam em Betel.
Amasias, o sacerdote, se levantou em cólera contra Samuel. imediatamente avisou o rei, e logo a seguir encarou o profeta com o dilema e o ultimato de voltar a Judá e ganhar lá sua vida.
Com a firme convicção de que Deus o tinha chamado, Amós anunciou valorosamente a condenação de Amasias. Não somente seria morto e sua família exposta ao sofrimento, senão que, além do mais, Israel seria arrancado de raiz e levado ao exílio.
Na quarta visão, lhe apareceu uma cesta de frutos de verão. Enquanto o prumo significava a inspeção, a fruta de verão indicava a iminência do juízo. Como a fruta madura espera ser consumida, assim Israel estava presta para a condenação. Aquele era o fim, Deus não esperaria mais. Os opressores, os que quebrantavam o sábado e os negociantes sem escrúpulos, eram chamados para renderem contas de suas ações. Os lamentos iriam substituir a música. As condições pendentes eram tais, que o povo desejaria ouvir a palavra de Deus, mas não poderiam achá-la. Todos pereceriam no juízo.
Na visão final, o Senhor aparece junto ao altar para executar a sentença contra Israel.
O tempo chegara para destruir as cidades e derrubar toda a estrutura do templo. Deus, que havia repartido entre eles a bondade, estava agora dirigindo a execução. Deus tinha colocado seu olho sobre eles pelo mal, e não pelo bem. Não importa aonde fugissem, não poderiam escapar do cativeiro.
Israel está a ponto de ser peneirada para separar o grão dentre as nações.
Todos os profetas tiveram uma mensagem de esperança. Em seu parágrafo final, Amós insere uma promessa alentadora (9.11-15). A dinastia davídica será restaurada, o reino será reafirmado.
Todas as nações sobre as quais "é invocado meu nome" serão tributárias de Israel. O vigor e o êxito prevalecerão mais uma vez, quando a fortuna de Israel seja recuperada. O tempo chegará quando Israel seja restabelecida em sua própria terra, e nunca mais voltará a ser abatida.


[1] Ao furar este fruto com forma de figo, os insetos do interior ficam em liberdade, e o processo de maturação é assim acelerado.
[2] Está universalmente conveniado entre os eruditos que Amós profetizou durante os dias de Jeroboão. Seu reino terminou no 753 a.C., de acordo com E. R. Thiele, op. cit., p.70.
[3] R. H. Pfeifer. The books of the Old Testament (Nueva Yotk 1957) p. 300, sugere que o ministério de Amós esteve limitado a poucos meses. Amasias informou que o país não podia suportar tão duras palavras (Am 7.10).
[4] Bentzen, op. cit., p. 139, sugere que o livro de Amós foi compilado em Judá, já que Jeroboão é mencionado antes de Uzias em 1.1
[5] A exortação a preparar-se para o encontro com Deus, (4.12), não representava outra "oportunidade". Tendo desperdiçado a misericórdia divina, eles foram solenemente advertidos de que se preparassem para o castigo de Deus.


Fonte: Samuel J. Schultz - A História de Israel no AT


Pesquisa: Pr.Charles Maciel Vieira

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